31 de jul. de 2016

A ARTE PERDE ELVECIO GUIMARÃES




A arte amanheceu entristecida. LUTO. Faleceu Elvécio Guimarães. Ele partiu aos 83 anos, na madrugada de hoje. 

Um dos pioneiros profissionais e incansáveis de Minas para o país. Elvécio Guimarães, ator, radio-ator, tele-ator, diretor de teatro e de televisão,  iniciou sua carreira profissional em 1949 na Rádio Inconfidência de Belo Horizonte. Ali, teria início uma história de força, talento, consciência, de bravas certezas e palmilhar respeitável. Quem viu sua arte, compartilhou seu sorriso ou sua indignação nas mesas belo-horizontinas, teve a rara oportunidade de aprender muito com quem tinha o que dizer. Agora, Elvécio foi rever sua Cleide e encenar na paz eterna, a dança da folia da vida digna e da missão tão bem cumprida. Gratidão, Elvécio. Aplausos de pé, infindáveis. Você brilhou. Toda luz, querido. (MF)

Despedida, hoje, domingo: 
Cemitério do Bomfim.
Velório após as 10h

Sepultamento às 16h.


Elvécio Queiroz Guimarães (Belo Horizonte MG). Ator e diretor. Pioneiro da atuação em Minas Gerais, sua trajetória inclui carreira expressiva no radioteatro, na TV Itacolomi e, posteriormente, nos palcos de Belo Horizonte, onde atua em mais de cem produções. Tem importante participação na organização do setor artístico-cultural, atuando no sindicato ou na administração à frente de teatros locais, trabalho que culmina com sua nomeação para o cargo de secretário de Estado da Cultura.

Inicia sua carreira artística aos 15 anos, como ator de radioteatro da Rádio Inconfidência. Aos 17 anos, já é reconhecido como galã. Em 1952, transfere-se para o Rio de Janeiro e passa a integrar o elenco da Rádio Mayrink Veiga. Nessa época, tem seu primeiro contato com a televisão e faz pequenas apresentações no teleteatro da TV Tupi. É locutor, apresentador e ator na Rádio Globo, no ano de 1954.
De volta a Belo Horizonte, em 1955, é contratado pela TV Itacolomi, principal emissora da época, responsável por inúmeros programas de entretenimento. Exerce a função de apresentador, ator, narrador e redator de novelas e protagoniza o primeiro seriado da TV brasileira, Noites Mineiras, de Lea Delba, um conto de época que retrata a Belo Horizonte do início do século XX. Paralelamente à televisão, atua na Rádio Guarani mineira em 1956. Apesar de trabalhar prioritariamente em rádio e televisão, começa a dedicar-se também ao teatro.
No fim de 1961, é contratado, no Rio de Janeiro, pela TV Continental, onde permanece até o advento do golpe militar de 1964. Exerce funções diversas: ator, diretor, redator e produtor dos programas de radioteatro. Deixa a emissora carioca e assume a assistência de direção artística da TV Itacolomi, em Belo Horizonte, função que exerce até 1968, quando é contratado como coordenador de programação pelo Sistema Globo de Rádio e Televisão. Em 1969, atua também na Rádio Tiradentes. O enfraquecimento da televisão local leva-o a intensificar o trabalho no teatro, destacando-se como ator e diretor de peças teatrais, musicais e óperas.
Durante a década de 1970, devido à dificuldade de sobreviver de seu trabalho em teatro, trabalha como advogado, fazendo esporádicas incursões nos palcos da cidade. Atua em uma versão teatral para adultos de Flicts, de Ziraldo, em 1976; na peça O Interrogatório, de Peter Weiss, em 1978; e no espetáculo Sol no Olho, de Fauzi Arap, que também dirige, em 1979. No princípio da década de 1980, atua e dirige O Amor do Não, de Fauzi Arapi, e trabalha como ator nas produções O Bravo Soldado Schweik, de Jaroslav Hasek, com direção de Pedro Paulo Cava; e na comédiaÉ..., de Millôr Fernandes, dirigida por Jota Dangelo. Por sua atuação nessa montagem recebe o Troféu Apatedemg, da Associação Profissional dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de Minas Gerais, de melhor ator do ano.
Recebe, em 1981, o título de Personalidade do Teatro, conferido pela Apatedemg, instituição que preside na época. É convidado a assumir a direção do Teatro Francisco Nunes, tradicional casa de espetáculos da capital mineira, em 1982. A partir de então, concilia a atividade artística com cargos administrativos e a atividade pedagógica. Dirige a peça em que atua, Orquestra de Senhoritas, de Jean Anouilh, e assina a direção de Inconfidência Mulher, de Luís Paixão. Em 1983, participa das remontagens de O Interrogatório e de O Bravo Soldado Schweik; e dirige Laio, ou o Poder, e também atua nessa peça, escrita, especialmente para ele, por Cunha de Leiradella. O jornalista Rogério Salgado comenta sua atuação nesse espetáculo: "[...] interpreta com toda a perfeição o personagem Laio, deixando claro que, além de ser o Monstro Sagrado do teatro mineiro na figura de diretor, é também um dos melhores atores de Minas Gerais".1
Dirige O Marido Vai à Caça, de George Feydeau, e Ensina-me a Viver, de Colin Higgins, e atua no musical Elis, como um Pássaro em seu Ombro, em 1984. Nesse ano, sua atuação chama atenção no espetáculo Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, dirigido por Pedro Paulo Cava.
Em 1985, deixa a direção do Teatro Francisco Nunes e atua em duas óperas produzidas pelo Palácio das Artes: Lúcia de Lammemoor e Balada para Matraga, e no espetáculo musical Show Boat, de Jerome Kern. Seguem-se atuações em diversos espetáculos e óperas, com destaque para Tute Cabrero, cuja atuação rende-lhe o Prêmio João Ceschiatti de melhor ator. Recebe a insígnia do Mérito Artístico conferida pela Fundação Clóvis Salgado, entidade mantenedora do Palácio das Artes, que preside entre 1988 e 1990. É um dos responsáveis pela implantação da Escola de Teatro do Centro de Formação Artística (Cefar) do Palácio das Artes, um curso técnico para atores no qual passa a lecionar. Assume, em 1990, o cargo de secretário de Estado da Cultura, que exerce durante um ano.
A década de 1990 é bastante profícua para sua carreira; firma-se como um dos atores mais experientes do teatro mineiro, dirige espetáculos, atua em óperas, peças e vídeos e ingressa no cinema. Inaugura a década de trabalho com as peças Noel, O Feitiço da Vila e A Conjuração, ambas dirigidas por Jota Dangelo. Em 1993, atua na comédia Ri Melhor Quem Ri Primeiro e, nos dois anos seguintes, dirige as produções:O Diabo Também Faz Milagres, de Mauro Alvim; Ratos e Homens, de John Steinbeck;Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; e Ubu Rei, de Alfred Jarry, montagem de teatro de bonecos com O Grupo. Em 1995, atua em dois espetáculos do Grupo Giramundo: Antologia Mamaluca e Carnaval dos Animais.
Retorna à televisão como diretor do Departamento de Produção de Programas Educacionais e Institucionais do Sistema Salesiano de Vídeo (SSV), em 1996. Entre 1996 e 1997, atua na montagem de A Paixão segundo Shakespeare, com direção de Jota Dangelo, e no espetáculo O Céu Pode Esperar, de Paul Osborne. Pelos dois trabalhos, é indicado aos prêmios Sesc/Sated e Amparc/Bonsucesso na categoria melhor ator do ano, recebe o segundo por sua atuação em O Céu Pode Esperar. Em 1997, integra a lista de Filhos Ilustres - BH 100 Anos, uma homenagem da Fundação Cultural de Professores do Estado de Minas Gerais.
Escreve e dirige Judas, peça em que também atua, em 1998. Nos anos seguintes, dirige e atua em Palmeira Seca, de Jorge Fernando dos Santos, e em Pétalas da Solidão, de Anton Tchekhov. De 1999 até 2004, dirige Auto de Natal, de sua autoria, e, em 1999, estreia no cinema com o filme O Circo das Qualidades Humanas, e atua na ópera Viúva Alegre, uma produção do Palácio das Artes. Em 2000, integra o elenco da peça Depois Daquele Baile, dirigida por Rogério Falabella. Nos anos 2000, investe na carreira cinematográfica, participando como ator de várias produções, entre elas Amor Perfeito, de Geraldo Magalhães; Vinho de Rosas, de Elza Cataldo;Vida de Menina, de Helena Solberg; e Bárbara, de Carlos Gradim. No teatro, atua em uma segunda montagem de Othelo, dirigida por Jota Dangelo. Em 2008, é homenageado pela classe artística com o Prêmio Usiminas/Sinparc de reconhecimento cultural.
Em 2015, Elvécio dirigiu seu último trabalho: " Nelson sem pecado", apresentando uma leitura teatral de sua breve convivência com Nelso Rodrigues, no Rio dos anos 50, quando foram contemporâneos em um jornal carioca. 

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