3 de nov. de 2009

MEU QUERIDO AMIGO, NANDO FIUZA



Quando a notícia chegou, não estava em BH, Nandinho. Quis desacreditar, até anoitecer. Porque você sempre voltava, Nando. Na silenciosa luta de vida inteira, suas idas e estadias no hospital sempre terminavam em casa, em toque de aquarela, na luz do seu sorriso leve, na arte vinda das suas mãos, únicas, as mais estranhamente lindas que já vi. Hoje, vem a profusão de imagens e lembranças lindas. Olho a foto que fez da sua mão sobre a minha, penso em seus dedos longos, as unhas encurvadas e a tonalidade de uma pele que sustentou dignidade ímpar. Há alguns meses, após um de seus retornos, custei a tocar a campainha da casa da esquina da Pouso Alto. Temi vê-lo desanimado sobre o colchão d’água...Que nada, lá estava você em pé e apresentou-me fiel cabelereira, seu corte de cabelo e barba impecável. E, num sorriso, você me recebeu: “estou cansado, minha voz hoje não está muito boa, mas, tem que cuidar, né? To bonito?”. E ria, recriando a vida! Sua instância criativa parecia infindável e era... Nas fotos, ilustrações, pinturas, inegável. Mas, seu maior presente e legado: uma amizade tão verdadeiramente completa. Você era puro amor, Nando, todos que se aproximavam bebiam a luz de um aconchego, sábias e cuidadosas palavras amigas, ancoradas em muito bom humor e gargalhadas. A voz tranqüila e o jeito suave, imprimindo delicadeza em arte e vivências, eram par para um homem de força tenaz, que para a justiça, sabia ser bravo e sua integridade assegurava qualquer eventual reivindicação. E tinha sempre um bom filme para indicar, uma boa música para ouvir, um livro para recomendar. Como ficar sem nossos intermináveis e bons bate-papos, cinemas, e peculiaridades, como sua alegria quando comprou seu DVD com gravador?! E nossas tardes em silêncio (milagre no meu caso!), nos passeios que você pedia, na Praça do Papa, só para sorrir e admirar o pôr-do-sol? Num setembro, suspirei que queria descansar nas montanhas, num lugar com árvores, natureza. Dias depois, chega você, meu amigo, com uma tela, presente de aniversário: “Fiz essa paisagem imaginaria, com as árvores e montanhas... pra você descansar lá. Era assim o lugar?” Sem dúvida! Perfeição. Falando em montanha, uma vez falou da “A montanha mágica”, de Thomas Mann e, fez reflexões tão próprias sobre a subjetividade do tempo. De fato, amigo, é difícil alinhar os fatos ou, descontinuá-los. Pois ainda vejo você, macio sob as camisetas de malha, mergulhado em arte, sentado na cadeira do som, os lindos cães Van Gogh e Tarsila, aos pés. Um, silenciosamente bravo e a outra dengosa, como suas duas metades. Hoje, páro a escrita, e fica uma de suas telas na parede e noutra moldura, um desenho num guardanapo de papel, feito lá em 2001, nas áureas noites da Cozinha de Minas. Como se nada pudesse findar, ainda tive o presente de ter sua aquarela na capa do meu livro de poesias, Travessia dos Tempos, tão incentivado por você. Nela, outra paisagem imaginária, quase um haicai em tintas – feita, ano passado, no leito do hospital!!! (Onde, aliás, você desenhava todas as enfermeiras e multiplicava amizades!). Quando ficou pronto, corri à sua casa para lhe mostrar, meu anjo de luz, abracei você e pedi benção, como sempre fiz. Hoje, não ouso atravessar o tempo além das boas lembranças. Fico com a frase que, em março de 2008, vimos juntos, Murilo Antunes escrever sobre você: “Cores aquarelam, guacham belezas”.
Márcia Francisco
(FOTO MÃOS - FERNANDO FIUZA)





FERNANDO FIUZA
13/04/1953 + 30/10/2009


















(Fernando Fiuza - auto-retrato)

Missa de Sétimo Dia
05 de novembro, quinta-feira, 19h

Paróquia de Santa Tereza
Praça Duque de Caxias, 200 - Santa Tereza - Belo Horizonte - MG

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*amigos, neste instante de saudade infinita deste amigo, artista da luz, ouso compartilhar:
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http://www.flickr.com/photos/fernandofiuza